Nossa pescaria de hoje é mobilizar afetos e solidariedade

por Oceânica

29/06/2021

Conservação

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Dia das pescadoras e pescadores – 29 de junho

Por Joane Batista, Oceânica.

As práticas socioespaciais da pesca artesanal têm sido a base para a reprodução de modos de vida e trabalho que vem sendo historicamente construída com uma cultura do bem viver, “um processo proveniente da matriz comunitária de povos que vivem em harmonia com a natureza” (Acosta, 2016). A partir da perspectiva do bem viver, as práticas socioespaciais da pesca artesanal produzem dinâmicas territoriais e territorialidades de afetos e solidariedade, das comunidades tradicionais com a natureza, onde seus ciclos de vida, regem acordos e condutas.

Conforme relato da pescadora Rita de Cássia, moradora do município de Macau/RN, “Nós pescadoras trabalhamos pela lua, que é o preamar e o baixa mar, muita gente trabalha por hora, nós não, nós trabalhamos pela lua. O professor precisa assinar o ponto, nós pescadoras não, o horário quem faz é a lua.” A marisqueira Lindalva relata sua reverência ao entrar e sair dá área estuarina do Rio Tubarão em Diogo Lopes/RN, com suas orações agradecendo diariamente a dádiva em compartilhar sua vida com a natureza, uma divindade mas também amiga, que a escuta e acolhe. Como retribuição sua coleta de mariscos é feita com as mãos evitando pegar os juvenis para que eles cresçam mantendo o ciclo da vida no/do rio, mangue e dela e de todas as suas companheiras de trabalho da mariscagem.

O modo de vida e trabalho das comunidades tradicionais da pesca tem muito a nos ensinar em tempos onde a natureza é vista como um recurso econômico e até exótica, e pessoas não são cidadãs e sim consumidoras, ambas, natureza e pessoas, inseridas em  “território(s) de disputas perversas e excludentes”, onde o capital dita e rege diariamente novas formas de ser e viver, em nome do crescimento econômico que vem comprometendo sobremaneira as diversas formas de vida no planeta terra.  

No dia das pescadoras e pescadores artesanais convidamos todas as pessoas para refletirmos onde chegamos e onde chegaremos negando os afetos e solidariedade dos povos tradicionais que cuidam e reconhecem a vida no planeta terra, em toda a sua diversidade, como fundamental para mantermos uma vida plena, em harmonia e com justiça socioambiental.

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